"Uma vida não questionada não merece ser vivida." (Platão)

Salmos 1
1 Felizes são aqueles que não se deixam levar pelos conselhos dos maus, que não seguem o exemplo dos que não querem saber de Deus e que não se juntam com os que zombam de tudo o que é sagrado!
2 Pelo contrário, o prazer deles está na lei do SENHOR, e nessa lei eles meditam dia e noite.
3 Essas pessoas são como árvores que crescem na beira de um riacho; elas dão frutas no tempo certo, e as suas folhas não murcham. Assim também tudo o que essas pessoas fazem dá certo.
4 O mesmo não acontece com os maus; eles são como a palha que o vento leva.
5 No Dia do Juízo eles serão condenados e ficarão separados dos que obedecem a Deus.
6 Pois o SENHOR dirige e abençoa a vida daqueles que lhe obedecem, porém o fim dos maus são a desgraça e a morte.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

AMOR LIQUIDO (FRAGMENTOS DE UMA RESENHA) Por Gilberto Fonseca.

Por Gilberto Fonseca. (extraído)

Vivemos tempos difíceis.
E complexos.
A globalização abriu a Caixa de Pandora e o homem moderno se perdeu no meio das possibilidades.
Ansioso por relacionar-se, em meio a uma torrente de oportunidades, perdeu a noção do valor dos sentimentos e dos laços afetivos.
A cultura do descartável facilita esse descaminho. Tudo em nossa sociedade é instantâneo e substituível. Por que, num mundo de tão furiosa massificação, os relacionamentos amorosos fugiriam dessa regra?
Em Amor Líquido, Zygmunt Bauman disseca, através de uma visão crítica, a fragilidade das relações, utilizando-se de um texto sério, sem ser sisudo e também sem levá-lo a um cientificismo desnecessário, deixando claro que seu livro não tem por objetivo compreender o amor em seu âmago ou sua gênese, mas, sim, considerar seus efeitos e as mutações na forma de vê-lo ao longo destes últimos tempos.
E o seu olhar perturba o leitor, pois o coloca diante de um espelho e o faz enxergar cicatrizes que se procura esconder ou, ao menos, disfarçar. Bauman não tem pena nem receio de apontar a ambigüidade do “líquido cenário da vida amorosa”, que oscila entre o céu e o inferno. Pois, ao mesmo tempo em que tudo fazemos para fugir da solidão, não queremos vínculos permanentes, porque não há a certeza de que faremos a escolha certa, de que a pessoa que partilhará do nosso dia-a-dia não nos fará sofrer, ou ainda, de que estando comprometido com esta, não estaríamos abrindo mão de outra, ainda melhor, com mais qualidades que nos tornaria ainda mais felizes, ou mais satisfeitos. Não se quer desperdiçar tempo nem energia em uma relação que possa não trazer resultado algum. O que se quer é, com o mínimo de esforço, o máximo de satisfação. A fórmula testada e aprovada é bem-vinda, mas mesmo esta, não é garantida.

“E assim é numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantias de seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a “experiência amorosa” à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas estas características e prometem o desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultado sem esforço.”

As relações nos dias de hoje acabaram se transformando em um meio termo entre amor e desejo. Há uma liberdade de encontro e compromisso. Isso possibilita que se esteja conectado a alguém, mas não fechado para a possibilidade do novo.Bauman compara o relacionamento pós-moderno a um Shopping Center, onde, comprovadamente, não se compra por desejo, mas por impulso. As relações, então, seriam as mercadorias, prontas para serem consumidas e descartadas. Se estas apresentarem algum defeito, ou não satisfizerem o cliente serão trocadas por outras, melhores.
Desejo e amor necessitam ser cultivados, retardando assim a satisfação. Um sacrifício hercúleo para um ser de uma sociedade consumista, regida pela rapidez.Nunca houve tanta liberdade na escolha de parceiros, nem tanta variedade de modelos de relacionamentos, e, no entanto, nunca os casais se sentiram tão ansiosos e prontos para rever, ou reverter o rumo da relação. Também é comum a preferência por um relacionamento virtual a um real, pois este pode ser rompido com um clic no mouse do computador sem que haja culpa por ter se agido assim, diferente de um rompimento ao vivo onde o sofrimento passa a ser explícito e, portanto, indesejado.
Bauman faz, também, uma análise detalhada do papel do sexo. Utilizando uma afirmação de Lévi-Strauss, defende que “o encontro dos sexos é o terreno que a natureza e a cultura se depararam pela primeira vez. E, além disso, é o ponto de partida para qualquer cultura, a origem de toda cultura.” , mas também observa que, nos dias de hoje, o sexo é banalizado, “tornou-se o modelo alvo/ideal predominante da parceria humana.”.
Se antes o sexo coroava o amor, hoje ele está desvinculado quase em sua totalidade desse sentimento. A atividade sexual passa cada vez mais cedo a fazer parte da vida humana e isso não acontece impunemente, os laços dos relacionamentos, a partir disso, já nascem frouxos. Há uma busca constante pela satisfação sexual (ou ampliação dela) e quando a qualidade decepciona, busca-se a solução na quantidade. Isso interfere também no formato e nas características das famílias, criando novos graus de parentescos, ou ainda, famílias incompletas, destituídas de pai ou mãe, ou ainda, com dois pais ou duas mães. Um filho de “ponte entre a mortalidade e a imortalidade da família” passou a ser um “objeto de consumo emocional”. Esse mesmo sexo caminha para a direção contrária do relacionamento. É absurdamente comum a quantidade de pessoas que buscam a satisfação de seus instintos sexuais através da internet, terreno seguro para se experimentar toda e qualquer fantasia imaginada, sem correr risco nenhum. É possível contatar-se com pessoas de todas as partes do mundo e dividir com elas instantes prazerosos, ainda que líquidos, sem preocupar-se com doenças sexualmente transmissíveis ou com o risco de envolvimento emocional indesejado.

“Terminar quando se deseje – instantaneamente, sem confusão, sem avaliação de perdas e sem remorsos – é a principal vantagem do namoro pela internet. Reduzir riscos e, simultaneamente, evitar perda de opções é o que restou de escolha num mundo de oportunidades fluidas (...) e o namoro pela internet, ao contrário da incômoda negociação de compromissos mútuos, se ajusta perfeitamente (ou quase) aos novos padrões de escolha racional.”

Bauman fala, ainda, sobre a dificuldade de amar o próximo: “A invocação de ‘amar o próximo como a si mesmo’ é um dos preceitos fundamentais da vida civilizada. É também o que mais contraria o tipo de razão que a civilização promove: a razão do interesse próprio e da busca da felicidade.” Como amar um próximo que não demonstra a menor consideração por nós? Há um mundo competitivo lá fora, uma selva onde o predador está à espreita, e não há indícios de que o estranho a quem devemos amar vai devolver esse sentimento ou, ao menos, demonstrar o alguma consideração por ele.
Há uma máxima que diz que para amarmos os outros é preciso primeiro amar-se a si. Bauman define esse amor próprio como “a necessidade de ser amado, pois a recusa do amor – a negação do status de objeto digno de amor – aumenta a auto-aversão. O amor próprio é constituído a partir do amor que é nos oferecido por outros” , ou seja, para amar é preciso se amar e para se amar, é preciso ser amado.
O autor não esconde seu pessimismo com relação ao futuro.E tudo por que somos incapazes de constituir vínculos sólidos uns com os outros.Fomos perdendo o interesse na qualidade das relações, no verdadeiro sentido da palavra amor.
São tempos difíceis e complexos, que gerarão outros tempos ainda mais difíceis e complexos para os que virão depois de nós se não houver uma profunda reflexão do nosso papel enquanto indivíduos e enquanto grupo em nossa sociedade. Colocar o dedo na ferida faz com que tenhamos a certeza de que ela existe e precisa ser tratada se desejarmos curá-la.
Zygmunt Bauman coloca o dedo na ferida e nos faz pensar.
O espelho está aí, basta olhar e ver nosso verdadeiro reflexo.
Olhemos.

Deixo ainda uma reflexão Bíblica (Romanos 12:1-2) Versão Linguagem de Hoje

Portanto, meus irmãos, por causa da grande misericórdia divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a Deus.
Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

MODERNIDADE LIQUIDA

Uma síntese do Livro - MODERNIDADE LIQUIDA. Para reflexão dos relacionamentos eclesiásticos de uma Igreja que vai tomando a forma passiva de uma sociedade liquida. “Grifos meus”.


De acordo com a Enciclopédia britânica, “Fluidez” é a qualidade de líquidos e gases, por tanto, essa propriedade é responsável pelas constantes mudanças de formas quando submetidos a uma força. Pela propriedade de não fixação no espaço e por não se prenderem ao tempo, foi que Zigmunt Bauman utilizou em seu livro Modernidade Líquida a metáfora da “fluidez” ou “liquidez” para a presente era moderna.

No prefácio de sua obra, o tempo apresenta relevância especial, pois os fluidos estão sempre prontos a mudanças, preenchem espaços apenas por um momento e por isso mesmo, precisam ser datados. Como a mobilidade dos fluidos se associa à idéia de leveza, essa adentrou na história da modernidade, que não havia sido desde o começo um processo de liquefação.

Os autores do Manifesto Comunista, há um século e meio atrás a considerava estagnada e resistente, com necessidades de derretimento dos sólidos, para dissolver o que quer que persista no tempo e fosse imune a passagem ou ao fluxo. Esse cenário poderia ser representado pela profanação do sagrado, repúdio e destronamento do passado, da tradição, das crenças forjadas etc.

Tentando aperfeiçoamento e substituição de sólidos deficientes por outros aperfeiçoados e preferivelmente perfeitos. Nesse contexto, os primeiros sólidos a derreter seriam: as lealdades tradicionais, os direitos e obrigações que atavam pés e mãos que impossibilitavam os movimentos e iniciativas. Assim, derretendo esses sólidos, as redes de relações sociais estariam desprotegidas e expostas a outras regras de ações. O derretimento dos sólidos gera com isso, uma progressiva liberdade na economia no que tange as tradições políticas, éticas e culturais. Sedimentando uma nova ordem econômica.

Com efeito, o derretimento dos sólidos trouxe a dissolução das forças que poderiam manter a questão da ordem e do sistema na agenda política. Na modernidade fluida se entrelaçam escolhas individuais em projetos e ações coletivas. Nenhum molde foi quebrado sem que houvesse substituição por outro, as pessoas foram relocadas em uma nova ordem, em nichos pré-fabricados, usando a nova liberdade para encontrar as condições particulares para se adaptarem sem esquecer das regras e condutas tidos como corretos para o lugar.

A modernidade fluida produziu uma profunda mudança na condição humana com tendência de desenvolvimento nos conceitos básicos da emancipação, individualidade, tempo/espaço, trabalho e a comunidade. O tempo adquire história pela velocidade do movimento através do espaço, da imaginação e da capacidade humana. O céu passa a ser o limite, e a modernidade, um esforço contínuo, rápido e irrefreável para alcançá-lo. O acesso a meios mais rápidos de mobilidade na modernidade é a principal ferramenta de poder e dominação.

Com relação ao homem na modernidade, ser moderno passou a significar ser incapaz de parar e de ficar parado, tendo necessidade de estar sempre à frente de si mesmo, significa também, ter uma identidade que só pode existir como um projeto não realizado. Para distinguir nossa condição na modernidade e a condições da modernidade de nossas avós, o autor faz uso de duas características para apresentar diferenças na situação atual. A primeira diz respeito ao declínio da crença de que há um Estado de perfeição a ser atingido no fim do caminho. A segunda diz respeito à auto-afirmação do indivíduo, que se reflete no discurso ético/político do quadro da “sociedade justa” para o dos “direitos humanos”.

O que o autor observa nessas diferenciações é que, se a modernidade original era pesada no alto, a modernidade atual é leve no alto, livres de deveres emancipatórios, com exceção do dever de ceder à emancipação das camada média e inferior, as quais foram relegadas a maior parte do peso da modernização contínua. Diferente da individualização de cem anos atrás, a individualização na modernidade atual, consiste em transformar a identidade humana de um dado em uma tarefa, onde seus autores serão responsáveis pela realização dessa tarefa e das conseqüências advindas com a mesma.

Bibliografia: BAUMAN, Zigmunt . Modernidade Líquida; tradução, Plínio Dentzien. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001